sábado, 13 de outubro de 2012

Um hobby: Nas horas vagas...

Por Rafael Barbosa dos Santos

O que mais gosto de fazer nas horas vagas, é escrever, exercitar minha escrita e claro ir melhorando cada vez mais nesta arte. 
Vou dividir com vocês, um de meus textos, fruto de um desses exercícios. Espero que gostem. 



FIM E COMEÇO 



TERRAÇO DE PRÉDIO – EXT/NOITE.

Augusto 40 anos, desarrumado, á mais de 40 metros do chão, observa á imensa são Paulo coberta pela luz do luar. Fecha os olhos, sente a briza, respira fundo, olhar melancólico. Lança um olhar para baixo, onde carros passam em um ritmo frenético. Sente uma ligeira vertigem, recua e se vira. Está saindo, quando nota alguém se aproximando. Trata-se de Edilson (35) visivelmente transtornado. Ele cambaleante caminha até a beira do terraço, olha para baixo, ameaça se jogar. Augusto observa curioso. Os pés de Edilson já ultrapassam o chão firme.

EDÍLSON – (para si) Vamos... Acaba logo com isso.

Augusto se aproxima decidido.

AUGUSTO – Hei...

Edílson assustado se vira, quase se desequilibra, encara Augusto.

AUGUSTO – Cuidado!

EDÍLSON – Quem é você?

AUGUSTO – Não importa, o que importa é que eu estou aqui pra impedir você de fazer uma besteira.

EDÍLSON – Me impedir?... Impossível... Eu nem te conheço!

AUGUSTO – Meu nome é Augusto... Pode acreditar, não vale á pena fazer isso que está pensando em fazer!

EDÍLSON – (perturbado) Você não sabe nada, eu vou me joga sim, acabar com essa merda de vida! (mais uma vez ameaça)

AUGUSTO – Não faça isso... Olha, eu subi até aqui pra fazer o mesmo, eu estava disposto á me jogar, e me espatifar lá em baixo, mas eu mudei de idéia e eu garanto que eu tinha um motivo muito mais forte do que o seu pra isso!

EDÍLSON – Duvido... Por um acaso você pegou sua mulher com quem ta junto á mais de dez anos, á mãe de seus filhos, na cama com um vagabundo, se comportando feito uma vadia? (vai às lágrimas) Aposto que não, você não sabe o peso que eu tô carregando, e não é dos chifres não, é no coração mesmo... Eu amava aquela desgraçada, eu fiz tudo por ela, eu... Me matava de trabalhar, pra dar o melhor pra ela... E olha só o que eu ganhei... A minha vida acabou, já era, de que adianta essa porcaria de vida agora? Ontem eu era um pai, chefe de família exemplar... Hoje eu sou um corno, idiota, fracassado/

AUGUSTO – (corta) para com isso, você acha que vale á pena se jogar, é essa sua resposta pro que fizeram com você?

EDÍLSON – O que é que posso fazer? Ou eu me mato, ou eu mato ela!

AUGUSTO – tem que haver outra alternativa, se você se jogar, vai mostrar pra sua mulher que você é um fraco. Se você se jogar, o que acha que seus filhos vão pensar? Vão crescer achando que o pai foi um covarde, que não aguentou encarar de frente os problemas e preferiu acabar com a própria vida! Que lição você vai deixar pra eles, aliás, você não pensa nos seus filhos?

EDÍLSON – Eu os amo... Mais eu sequer consigo olhar pra eles... Sinto... Vergonha.

AUGUSTO – Vergonha? Mas quem tem que se envergonhar é a sua mulher. Para com isso cara... Se fazer de vítima, se matar não vai adiantar nada, não vai apagar a traição que você sofreu. Você tem dois filhos, você é jovem, deve ter seus 30 anos/

EDÍLSON – (Mais calmo) Bondade sua... Tenho 35.

AUGUSTO – Ainda assim jovem... É aparente saudável, tem uma vida inteira pela frente, você pode começar de novo, do zero, pode amar alguém, mostrar pra sua mulher que quem saiu perdendo foi ela, a melhor resposta a essa traição, é a sua felicidade, é você seguir em frente de cabeça erguida.... (levemente emocionado) Não joga tua vida fora, porque ela é o seu maior bem e não vale á pena desperdiçá-la por nada, a vida ta aí, pra gente errar e acertar quantas vezes for preciso, corrigir, cair e levantar, voltar atrás, enfim... Vem, desiste dessa loucura, me dá sua mão.

Edílson olha para o abismo atrás dele, volta á encarar Augusto olho no olho, estende a mão, aperta á de Augusto. Se afasta do precipício, são e salvo. Olha Augusto, agora com um olhar esperançoso e destemido.

EDÍLSON – Você ta certo... Não vale á pena, eu preciso continuar vivo, pelos meus moleques, e por mim também.

AUGUSTO – É isso aí, vai lá cara, vai viver, se lambuzar com á vida, aproveita cada segundo, a vida é preciosa.

EDÍLSON – Eu vou... E obrigado, você me salvou.

Edílson está saindo quando se volta para Augusto novamente, intrigado. Percebe- se Augusto com os olhos marejados, a brisa remexe seu cabelo.

EDÍLSON – Só uma coisa, você se esqueceu de me dizer o porquê iria se jogar, e o que o fez desistir.

SILÊNCIO.

EDÍLSON – Bem, eu soube á uns três meses... Que... que eu tenho uma bomba relógio prestes á explodir na minha cabeça.

EDÍLSON – (espantado) O quê?

AUGUSTO – É isso, o meu médico disse que ela ia crescer, crescer e ia esmagando o meu cérebro até chegar um momento em que eu não iria agüentar e... Já era... Ele tinha dito que eu tinha pouco menos de um ano, mas hoje eu soube que o tumor cresceu muito, e então... Eu descobri que a qualquer momento eu posso partir dessa...

Augusto vai narrando sua história diante do olhar assombrado de Edilson.

AUGUSTO -... Espero eu pra uma melhor (ri).

EDILSON – Nossa, eu nem sei../

AUGUSTO – Não precisa dizer nada, o médico sugeriu que eu ficasse num hospital, mas não, seria insuportável, não quis ligar pra ninguém, saí sem rumo, vim direto pra cá, quis acabar com isso logo de uma vez... Mas aí, um filme se passou pela minha cabeça, eu pensei nos meus pais, no meu irmão, na minha esposa que ta grávida, nos meus amigos, em tudo... Pela primeira vez eu pude enxergá-los com as coisas mais importantes dá minha vida, eu os amo muito, mas nunca pude dizer isso pra eles, porque eu passei a vida toda trancado num escritório, controlando uma empresa, me preocupando em ganhar muito dinheiro, e simplesmente me esqueci da dar valor ás coisas mais importantes... Eu não acompanhei á minha mulher no primeiro pré natal dela, porque eu tinha uma reunião importante, e ainda fui grosso quando ela veio me cobrar, eu não tava lá quando ela ouviu pela primeira vez o coraçãozinho do bebê, eu não fui com ela escolher as primeiras roupinhas, o berço...

Augusto desaba em lágrimas, o outro o olha comovido. Tempo.

EDÍLSON – Sinto muito.

AUGUSTO – (secando as lágrimas com o braço) Eu desisti de me jogar, pra poder ouvir á voz da minha mulher, dizer que amo muito ela, e amo muito o nosso filho, pra poder ligar pros meus pais, meu irmão, meus amigos nem que fosse pela última vez, e eu tava indo quando você apareceu naquele estado... Por isso eu te disse pra não fazer essa besteira, porque você ainda tem tempo de corrigir tudo, de recomeçar... E isso eu não tenho... Queria eu poder ter uma nova chance, faria tudo diferente, iria fazer mais pelos outros, e menos por mim.

EDÍLSON – Você fez muito por mim hoje, salvou á minha vida... Eu nunca vou esquecer.

Augusto e o Homem ficam se olhando por um instante. Ouve-se um toque de celular. È o de Augusto. Ele o pega, olha o visor. Ao mesmo tempo se ouve uma sirene, distante.

EDÍLSON – Não vai atender?

Augusto o encara, olhos vidrados, o celular se desprende de sua mão e cai no chão, continua tocando. Augusto fecha os olhos e desmorona sobre o olhar petrificado do outro. Cai inconsciente no chão. Edílson desaba rapidamente e tenta reanimá-lo.

EDÍLSON – Hei cara, acorda... acorda... não faz isso...

Edílson desiste, não há mais nada á ser feito, Augusto está morto. Ele emocionado, avista o celular que continua tocando sem parar. Ele o pega. Titubeia mas atende.

EDÍLSON – Alô!

Do outro lado.

VOZ FEMININA (Ao tel.) – Parabéns papai... Seu filho nasceu...

Edílson lança um olhar cheio de ternura e compaixão para o corpo.

EDÍLSON – Meus parabéns!

Ficamos com os dois. Som da sirene agora mais intenso. Lentamente alcançamos a lua, grande e majestosa, iluminado o céu escuro.

FIM.



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